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  • Foto do escritorLúcia Monteiro da Silva

Terapia de Casal – Juntar? Ou separar?

Parte 1



Os casais trazem a maior parte das vezes queixas específicas que aparecem como um despoletar da crise. Trazem o sintoma, trazem o que os incomoda sob diversas formas. Questões de infidelidade, a educação dos filhos, falta de desejo, as famílias de origem, etc. Muitas são as vezes que um vem acompanhar o outro. Um deles aparece em resistência e/ou até em negação. Ou ainda concordando com a existência de uma crise, mas não aceitando olhar “o casal doente”.


Neste sentido, acontece também poder ser um dos elementos do casal a apresentar a problemática de forma mais lúcida quanto à gravidade da situação enquanto o outro, muitas vezes nega, e tenta suavizar. Não tendo este texto a pretensão do estudo de género de quem faz o pedido de ajuda, mas arriscaria dizer, com base na minha prática clínica, que são maioritariamente as mulheres que marcam a consulta inicial.


O pedido inicial da Terapia de Casal pressupõe, em primeiro lugar, admitir a existência de um problema. Tal como na terapia individual, é o primeiro passo para o início ou da mudança ou da clarificação de que algo está a criar desconforto e sofrimento. Ainda que nem sempre os dois estejam de acordo quanto ao pedido de ajuda, vêm porque um marcou. Mas este pode ser um passo muito doloroso, porque do ponto de vista dos fantasmas inconscientes, poderá estar a iniciar-se uma “reparação” ou a uma “separação”!


O sobressalto interno de cada um sente-se no atendimento, e o medo do percurso desconhecido instala-se até existir um ambiente de maior confiança, e de pensamento sustentável.


É difícil colocar em causa o casamento/relação e poder até admitir, por vezes, que este chegou ao fim. Nem sempre é possível a reconstrução, muitas vezes é necessário assumir a separação. A presença do analista e o novo espaço de reflexão poderá ser reconfortante na medida que ajuda a colocar em palavras o que o casal não consegue verbalizar. É como que um veículo gerador de novos significados para os outros.


As expectativas aparecem de ambos os lados, expectativas do casal em ser ajudado, e expectativas do analista em ajudar e fazer o melhor possível o seu trabalho de pesquisa e escuta atenta.


A história pessoal, familiar e individual assume a maior importância na investigação da queixa/problema que é trazida para a sessão. Ousaria dizer que é a partir do momento em que se começam a fazer ligações importantes, entre o sintoma que os trouxe e as histórias de cada um, que podemos alargar a compreensão do que é trazido.


Segundo (Kaës, 2001) um homem e uma mulher quando se casam levam consigo, na formação do vínculo conjugal, o legado familiar de cada um, havendo a possibilidade desse conteúdo herdado não ter sido elaborado, nem transformado.


Assim sendo, o casal poderá, sem se dar conta, repetir padrões de comportamentos familiares inconscientes que poderão estar a comprometer o seu “Nós”.


Então, afinal a Terapia de Casal vai servir para juntar? Ou Separar?


Não é o terapeuta nem a terapia que o define. Quem o define é o próprio casal no decorrer do trabalho analítico. À medida que as sessões decorrem o casal percorre “o caminho possível”, aquele que começa a desenhar-se com as circunstâncias de cada um. Trazer o sintoma à consciência e tudo o que nele encerra de complexidade na relação a dois, é, pois, a base do papel do analista. Trabalhar para além do sintoma, é o desafio!





Bibliografia


Kaës, R. (2001). O sujeito da Herança.





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